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Demanda por alimentos e commodities agrícolas segue intensa mesmo com economia fragilizada na China

O futuro da economia chinesa há tempos preocupa e os dados que, mais uma vez, foram atualizados nesta terça-feira (15) acenderam mais sinais de alerta para a economia do mundo todo. As turbinas que garantem o crescimento da nação asiática estão bastante comprometidas e desequilibradas, como explica o professor do Insper, especialista em economia internacional, Roberto Dumas. "A turbina do consumo está começando a funcionar, mas não o bastante para compensar a diminuição das exportações líquidas e dos investimentos", diz.


O professor complementa dizendo, no entanto, que para que a "turbina do consumo" de fato funcione e dê o suporte importante à segunda maior economia do mundo, o governo chinês precisa garantir a renda da população e promover o processo de urbanização do trabalhador rural, melhorando também sua renda e dando ainda um fôlego ainda mais longo ao consumo.


"A população tem renda, mas prefere poupar. Não vai tomar empréstimo agora e por isso baixar a taxa de juros agora não vai surtir muito efeito", explica Dumas. Ainda assim, ele volta a dizer que o consumo está ainda bastante presente, em especial por alimentos. "Não vejo o chinês comendo menos, por isso, ainda sou otimista para as commodities agrícolas, quem mais sofre são as metálicas agora".


E nos portais internacionais, especialistas - assim como o professor Dumas Damas - atribuem à deflação na China uma das ameaças à demanda chinesa por matérias-primas, em especial os metais, em especial o cobre. As preocupações crescentes em torno do setor imobiliário, com as incorporadoras revivendo o episódio da Evergrande ganham espaço nos radares. O gráfico abaixo, divulgado pela agência de notícias Bloomberg, mostra que o maior percentual do uso de cobre na China se dá na construção - a parte em preto da imagem.


"Os produtores de commodities vão querer evitar um período prolongado de deflação que leve as famílias a adiar a compra de bens como joias, eletrodomésticos e automóveis. O 'truque' será evitar que as pressões deflacionárias se infiltrem na economia usando estímulos mais direcionados que não criem seu próprio conjunto de riscos", traz a notícia da Bloomberg.


E Dumas traz ainda a necessidade que o governo de Xi Jinping precisa, em algum momento, colocar a política fiscal expansionista em seu planejamento para voltar a crescer de forma mais consistente. "Estímulos a conta-gotas não vão levá-los a lugar nenhum", diz.


Se de um lado as importações de commodities metálicas preocupa, de outro, as de soja trazem boas novas. No período de janeiro a julho, as compras chinesas da oleaginosa somaram 62,3 milhões de toneladas, 15% a mais do que no mesmo período do ano passado, segundo dados da Administração Geral das Alfândegas. E a insituição apontou ainda que o valor por tonelada de soja, na comparação anual, foi 1,3% maior, ficando em US$ 605,39 por tonelada.


Já as importações de carne bovina e subprodutos, na primeira metade de 2023, foram de 1,25 milhão de toneladas, 6,3% a mais do que no mesmo período do ano passado. E em 2022, as compras da China foram recordes e alcançaram 2,69 milhões de toneladas, sendo 42,38 milhões% de produto do Brasil.


As imagens abaixo mostram a evolução das importações de produtos como - nesta ordem - soja, milho, trigo e arroz nas safras 2021/22, 2022/23, bem como as projeções para 2023/24; 2024/25 e 2032/33. Nas linhas abaixo dos gráficos, seus dois principais fornecedores de cada produto.


Já o gráfico seguinte mostra que a China ocupa o primeiro lugar nas importações globais de soja, milho, arroz, sorgo, cevada, carne bovina, carne suína; o terceiro lugar nas importações de carne de frango e quarto no trigo. Para 2032/33, as projeções são de que, no milho, passe a ser o segundo maior importador mundial, bem como assuma o primeiro como comprador de carne de frango.


"Por isso que, a despeito do crescimento econômico, eu continuo 'bullish'. Não com preços - já que a preço é uma conjunção de oferta e demanda. A demanda vai continuar alta, mas se a oferta for maior que a demanda, o preço cai. Mas, eles vão continuar comprando carne bovina, continuar comprando soja, continuar comprando milho. Em termos de commodities metálicas, eles vão continuar comprando, mas não como esperávamos, porque o motor do investimento não vai dar aquela pancada que o mercado sempre esperou", explica o especialista em entrevista ao Notícias Agrícolas no último dia 1º.


A segurança alimentar segue, portanto, como prioridade no topo da lista de Pequim, também buscando evitar - a todo custos - tensões sociais e mais desconfortos econômicos do que os atuais.


"A segurança alimentar não é uma questão nova para a China. Tem sido o tema mais importante do país durante a maior parte dos últimos 100 anos. Desde o início do século 20, o país testemunhou sete fases de fome que ceifaram dezenas de milhões de vidas. A pior dessas catástrofes, infamemente chamada de 'Grande Fome Chinesa', ocorreu durante 1959-61. Este trágico evento também tem a distinção de ser a maior fome da história da humanidade, tirando até 30 milhões de vidas", traz uma notícia da S&P Global.


A reportagem ainda relembra um trecho do discurso de Xi Jinping ao ser reeleito em 2022: "Devemos reforçar as bases para a segurança alimentar em todas as frentes. Garantiremos que tanto os comitês partidários quanto os governos assumam a responsabilidade de garantir a segurança alimentar e que a área total de terras agrícolas da China não caia abaixo da linha vermelha de 120 milhões de hectares. Trabalharemos para desenvolver gradualmente todas as terras agrícolas básicas permanentes em terras agrícolas de alto padrão. Revigoraremos a indústria de sementes, apoiaremos o desenvolvimento da ciência, tecnologia e equipamentos agrícolas e refinaremos os mecanismos para garantir a renda dos produtores de grãos e compensar as principais áreas produtoras de grãos. Com esses esforços, garantiremos que o abastecimento de alimentos da China permaneça firmemente em suas próprias mãos".


Um estudo liderado pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) mostra que o crescimento da renda e a melhora nos padrões de moradia dos chineses foram combustíveis determinantes para promover o crescimento das importações agrícolas do país nos últimos 20 anos. Neste mesmo intervalo, o consumo de grãos diminuiu e o de proteínas aumentou.


O consumo per capita de carne de frango, por exemplo, registrou um aumento de 32%, o consumo de óleo de soja mais do que quadruplicou e o de leite, triplicou.


Todavia, a China vem trabalhando sem descanso para, de alguma forma, amenizar sua dependência de alimentos ou matérias-primas para produzi-los importados, buscando assim diminuir também seus riscos de abastecimento. Recentes eventos como a guerra comercial com os EUA em 2018, a pandemia do Covid-19 e a guerra entre Rússia e Ucrânia que já dura mais de um ano expuseram algumas de suas vulnerabilidades.


Assim, o que virá da China, de Pequim e da equipe de Xi Jinping será, novamente, monitorado e acompanhado de perto, porém, sempre - no que diz respeito ao agronegócio - pautado no seu discurso de posse de 2022. A segurança alimentar, mesmo que esbarre em uma tremenda volatilidade dos preços, deverá manter-se em primeiro plano.

Com informações adicionais da Bloomberg, do China Daily e da S&P Global

Fonte: Notícias Agrícolas




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